Sólido de Solidão

Enquanto o violão desfere suas lições,

Fazendo do lirismo as mais prosas canções,

Para onde foram minhas emoções,

Que sinto aquele vazio no peito enquanto eu ando.

Corriqueiramente os pés contra o asfalto,

Vivendo um espiritual assalto,

Quem me faz ter essa vida de ir até o alto,

E depois sentir-me em queda livre.

Quanto devo me sentir só até que minha mão seja tocada,

É um sentimento quente que traz tanta frieza nessa morada,

Adianta um castelo grande e congelar no inverno,

Mesmo com o mais aconchegante abrigo interno.

Procuro um modo de me sentir bem mas d’onde está,

Tudo que minha alma tagarela consegue fazer é se calar,

Quero e não quero dizer, o que que há.

Mesmo querendo ver os céus só consigo para o chão olhar,

Tento orar,

Tento cantar,

Me distrair, me acalmar,

Mas porque me sinto sozinho, em alto mar?

Sentimentos verdadeiros doem mais que os falsos,

Pois tiram-nos do trono de calmos,

Nos deixam afáveis,

De corações instáveis.

Deveriam ser dias e dias ensolarados,

Mas os pássaros estão calados,

O céu alaranjado,

O dia acabado,

A mão está dada,

Mas de cara quebrada.

Me sinto um monólito em meio Tiwanaku,

Todo acabado,

Todo rachado,

Mas que perpetua em pé ao seu lado,

Até quando poderei ter gozo de estabilizado?

Chega ser irônico o monólito de La paz,

Que de paz não traz,

Se sente atrás,

Mas não deve reclamar jamais.

Estátua, entalhado,

Mármore, petrificado,

Cimento, marmorizado,

Sinto-me o abrigo atrasado.

Quão cresço e fico são,

Quantos dedos devo sangrar nessa canção,

Quantas vezes aborrecer quem me propaga a união,

Quantas vezes morrer na minha própria humanização.

Estou cansado de morrer incansavelmente,

Minha incansável mente,

Se encontra doente,

Por mais que eu tente,

Que eu crave meu dente,

Estrangulando essa serpente,

Como dói a vida sorridente.

Até onde meus limites se impõem limitações,

O quão podem doer a alguém minhas ações,

Não é questão de distração,

Estou perdido mas não será em vão.

Finalmente a Colecionadora,

Tomou face de Usurpadora,

Abriu sua Caixa de Pandora,

E é o quanto ela adora,

Meus sentimentos devora.

Por mais devoto,

Por todo meu voto,

Mantenho minha consciência,

Aplicando a pior pestilência.

Só queria não me sentir só,

Saber dar-me um próprio nó,

Não preciso de sentimento de dó,

Já não basta minha paciência de Jó.

E é testado esse meu louvor,

Colocando a mão onde está a dor,

Para tentar alcançar o meu fulgor,

Fazer prevalecer sempre o amor.

Estou sintonizado,

Estou contente ao seu lado,

Estou feliz com sua presença,

Me faz feliz dês da minha nascença,

Cura minha doença,

Torna-me melhor,

Faz-me querer conhecer o senhor,

Não me faço de penhor,

Busco sabedoria,

És minha alegoria,

Minha noite fria,

Meu maior presente do universo,

A quem dedico todo esse verso.

Mas cadê você?

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 04/04/2019
Código do texto: T6615373
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