Não quero ser patrono de desamores
Qual é a maior ironia?
Correria em meio a calmaria,
Começar um texto que necessita de afirmação,
Ou já começar com um ponto de interrogação?
Preso ao dogma de estar sempre suscetível ao desmoronamento,
Porque não controlo meu impulso ciumento,
Se ciúmes fosse um pecado capital,
Estaria fazendo hora extra nessa filial,
Afinal,
Do que adianta estudar ética e moral,
Sendo que tenho desproporcionalidade interna anormal?
Queria eu ter bondade comigo mesmo para sofrer calado,
Manter a cara intacta e demonstrar imutado,
Mas não consigo não ficar incomodado,
Quando meu coração diz que algo está errado,
Estou aprendendo a controlar emoções que um dia não quiseram ser silenciadas,
Com o amor próprio falando tão alto que seus egos estão à altura de universos,
Coloco-me em correntes e mordaças,
Vou me calando a cada verso.
Agora que tomei meu próprio castelo vejo o quanto de sangue derramei,
Vejo poetas, músicos, amigos, irmãos, amores, confianças e o velho rei,
As paredes entalhadas estavam espirradas de sangue que eu mesmo jorrei,
Me pergunto com essa mudança o que foi que me tornei.
O salão empilha corpos atrás de cadáveres conhecidos,
Enquanto a morte dança com os olhos reluzidos,
Apareceram até os desaparecidos,
Todos me chamando com badalares de sino,
É o sino da Morte,
“Que sorte,
Como pode,
É um massacre sem tempo de reação,
É uma modificação,
Vida longa ao rei dessa construção,
A espada ensanguentava virará uma nova constelação,
Sente-se em vosso trono que lhe aguarda ansiosamente pelo novo governante,
Será seu companheiro mais constante,
Que nesse instante,
Anseia que faça-o seu melhor tirante”.
A Morte dizia em tom de alegria com seu olho de fogo alaranjado,
Junto com a tulipa na sua outra cavidade ocular,
Sua boca sorria o salário do pecado,
O buraco na cabeça estava a se rachar,
As mãos cadavéricas alisando os corpos sem carbono,
As mesmas mãos que seguram meu ombro,
Enquanto eu me sento no meu velho trono.
“Sempre estive aqui e aqui me faço presente,
Seu destino poderia ser considerado inconsequente,
O que tem de mais atraente,
É o quanto a improbabilidade da causalidade é insistente,
Tudo consequente,
À saúde da sua mente,
Então tente,
Quem vai gostar de um tirano que range o dente?”
Mas Ela solta uma onomatopeia,
“Oh criança, você é a minha alma predileta”,
Por mais que levantar a espada seria a ideia,
Preferi manter a postura séria,
Antes que me viesse a histeria.
Depois de tanta guerra comigo,
Aprendi que nunca fui meu inimigo,
Pois não adiantaria me vencer,
Se eu sou o único a perder,
Então tive que renascer,
Mas não significou que parei de sofrer.
Tenho sonhos conturbados na noite fria,
Passo ela a maioria das vezes sozinha,
Chega junto à chuva fina,
Me molha e me confina,
Gota indissolúvel que passeia por minha alma,
Que tenta esfria-la em muita calma,
Mas do que adianta ser mar e um dia ser gota,
Se a gota d’gua se esgota,
Que do meu cálice tenha água límpida a quem merece,
E da mesma água será veneno a quem perece,
A queda é grande,
E nada que você conquiste te amortece.
Me pego subindo escadas e abrindo portas corriqueiramente,
Enquanto ando distraio com música a minha mente,
Minha alma doente,
Meu corpo sente,
O quão meu esforço traz (me) contente?
Procuro motivos para paz e tudo que convém é guerrear,
Quero saber quando esse sentimento vai parar,
Porque se eu me calar,
Quando é que eu vou falar?
Já falo o mínimo e é importuno,
Do que adianta ser noite em céu noturno,
Me queimo e me expurgo,
Quem roubou-me de mim mesmo é o gatuno.
A chuva cai e corrói meu coração,
Água benta que destrói minha conservação,
Já não basta a besta que apareceu,
Que a última guerra venceu,
A besta de mim mesmo sou eu,
Mas o que a convenceu,
Não fui eu.
Estou preocupado com o que vem acontecendo,
Não sei se estou perecendo,
Estou fazendo jus ao merecimento,
Mas tenho que me manter forte e destruir o ciumento,
Antes que ele corroa meu juramento.
Me pego com os dedos da mão direita contra a parede de um lugar,
Os dedos tocam a pintura em branco pálido envelhecida,
Joelhos e pés em linha reta do chão ferroso a me machucar,
A mão esquerda no chão se dando por vencida,
Não tanto quanto o meu coração a lacrimejar,
Meus olhos não olham para o horizonte nem acima do queixo,
Os ombros para baixo em completo desleixo,
Semblante caído e derrotado,
A lágrima que tenta fugir é para o olho sugado,
O respirar baixo e cacofônico,
Os pensamentos em tom atônico,
Mas novamente eu deveria me mostrar forte a quem eu sou égide,
Mas quem segura o cabo da espada e do escudo se encontra em ponfólige,
Então levante-se, corrige.
Não sei até quando resistir será opção,
O quão trincado pode ficar um coração,
O quanto posso sentir essa unção,
Alguém quer tirar a minha benção.
Pois os momentos de paz,
A um tempo atrás,
Vinha de vida atroz,
Me tornando o próprio algoz.
Que eu nunca me encontre indiferente,
Todas sejam a forma de me sentir contente,
Seja ponte consistente,
Que não tenha ruína da minha mente,
Por mais que eu tente,
Agora que a vida se tornou tão atraente,
Cansei de morrer repetidamente.
O pior é ser injustiçado,
Estou aprendendo a manter o ódio calado,
Mas sou eterno culpado,
Por sempre machucar a quem eu tenho amado.
Seja rei de prosperidade ou rei tirano,
Não quero ser leviano,
Sou mais azul que o ciano,
Só não quero mais silencio que Urano.
Mais uma guerra se vem e meu sentimentos se encontram em estática,
Estou colocando a felicidade em prática,
De expressão tácita,
Queria nunca conseguir me corroer,
Esfregar a pele até a carne aparecer,
Isso não dói mais do que machucar a quem eu deveria agradecer,
Por mais que arda a unha contra a carne,
Eu fiz tudo por merecer,
E por mim mesmo pode tudo desaparecer.
Eu tenho medo de causar indiferença,
A quem tem poder de sentença,
Imparcialidade é característica personalíssima de julgadora,
Que também pode ser um dia minha executora,
Então qualquer ação dela pode me deixar triste ou feliz,
A resposta pode estar debaixo do meu nariz,
Mas a corda me enforca por um triz,
Só não quero ser infeliz,
Nem fazê-la dessa maneira.