Urbes corvum
O peito pulsa-lhe a necessidade dos voos solos
Em seu ninho guarda apenas as migalhas dos sonhos...
As fortes expectativas que jogam em teu ar,
Não lhe permitem o planar.
As patas lesionadas pelo seu mal asfaltado amar,
Não o deixam caminhar.
Suas penas brancas e pueris, tom das esperanças joviais
Hoje cobertas pelas fuligens metódicas das chaminés
Tornaram-se apenas lembranças, riscadas nos anais
Dos quais tu travestes, da cabeça aos pés
Defendendo dos olhos vis, tuas novas penas negras.
O tempo te flagela as costas
E deixando sulcos em tua pele
De onde arranca a pergunta:
“Por que seres a sete palmos me chamam? ”
De onde escorrem a resposta:
“A terra não chama os mortos, mas os mortos que a anseiam. ”
O bico ainda seco do fumo de palha
Sente sede das úmidas partes da amada
Os olhos fundos da insônia
Mais uma noite mal dormida de saudade.
Já é tarde, o sono não te clama
Bebericas um vinho, a beira de fogueira
Arranca tuas penas, aproveita a tinta preta
E faz de tuas faltas, as linhas perfeitas.