Ser Lar de um Lar

Fiquei encafifado na primeira vez de me levar até a casa da família da minha namorada,

Estava tenso, não relaxei para nada,

Me falaram para sentir-me em casa,

Mas mesmo com o esforço de cada,

Mantive a invisível pressão calada.

Ter família é ter responsabilidade,

É amar a muitas pessoas que fazem parte da minha amada,

É a forma mais perversa e enciumada,

O amor não é o mesmo,

E mesmo assim sento-me na escada.

É um amor diferente do que ela sente pela pessoa que apresenta,

Mas todos tem uma paixão sedenta,

Como não ser uma pessoa ciumenta,

Quando apega e acimenta,

E ela tenta.

É uma órbita solar de tantos planetas dependentes,

Tantas personalidades de tantas pessoas diferentes,

São independentes dependentes,

Chega dar dores nos dentes.

Há mãe, padrasto e irmão,

Todos implorando por atenção,

Grita, xinga, corre, discute e dá sermão,

Mas nunca quebra essa barulhenta união,

Torce pano, põem peixe no fogão,

Lava prato, espreme limão.

Me foco e desfoco igual câmera tentando capturar foto de mosca em varal,

E por sinal,

Eu me sinto distorcido no final,

Pois afinal,

Minha família já foi igual.

São tempos que nunca irão voltar,

São pessoas que nunca vão se olhar,

São consangüíneos que nunca vão se amar,

E a gente tem sempre a ilusão de que família vai durar.

Um vai embora,

Outro casa,

Um fala "Simbora!"

Outro cai em desgraça,

Mas tá aí a graça,

Pessoas ligadas de destino para unirem e rirem na praça,

Mas o mundo traça,

Igual roupa com traça,

Acaba e a solidão nunca passa.

Vejo irmãos, vejo piadas e brincadeira em toda uma rotina,

Parece até uma faca de gelo fina,

Que aos poucos no coração afina,

É um tipo de amor que eu quero que me confina,

Derrete igual parafina.

Sou quem não tem sangue a quem me acolhe,

Genro se ganha, não se escolhe,

Nessas horas que minha vontade familiar encolhe,

Mas o destino colhe.

Parado nunca estou, fico elétrico com deveres,

Tudo para satisfazer a residência desses seres,

Celestes aqueles,

Que me fazem um deles.

Tenho medo de família e me partir com a separação,

Família unida que indo embora me traz aflição,

É uma desmantelada fiação,

Que me deixa a par de situação,

Se um dia todos da minha foram embora, o que impede que dessa também irão?

Quero família mas tenho medo da própria residência,

As vezes não tem congruência,

As vezes é pura ciência,

Mas nesse tipo de problema eu finjo demência.

O problema é ser um estúpido carente,

Tenho uma paixão tão ardente,

Que eu me torno uma dor de dente,

A gente sente,

Falta de mim, falta da gente.

É tanto acontecimento que qualquer discussão vira máscara num estalo,

Mesmo que todo mundo note o seu calo,

Todo mundo se mantém calado,

Há corajosos que entendem o fardo,

Que ter família é complicado,

A gente vai pra descansar mas volta um caco,

É uma cacofonia que eu me acho e me agrado.

Sinto que cada nome repetido é um teste de paz,

Cada tipo de provação que a vida me traz,

Mas me falta uma vez pra nunca mais,

Que pode transformar um sim num mas.

Falar alto uma vez é vestígio de declínio,

Até parece que eu mantenho minha face de cínico,

É um medo pós clínico,

Após livramento revê o ciclo.

De fazer criança dormir,

Ao tentar no chão dormir,

Forçar um mínimo a sorrir,

Fingir, fingir e fingir,

Mais enfrentar que fugir,

Mas nunca deixar ruir.

Não estar bem não é desculpa,

Mesmo que tenham parcela de culpa,

Um momento de fraqueza é motivo para infelicidade,

Mas eu estou amando de verdade!

As vezes ela até esquece de mim com o tanto de atenção que precisa dar,

As vezes não pega minha mão para poder gesticular,

As vezes não me beija por estar sempre a falar,

As vezes não me olha pois tem que de uma casa cuidar,

Não a culpo,

Me culpo,

Por não saber partilhar de estúpido.

Tudo bem que não queira me magoar com suas ausências,

Mas está em cada ser essas essências,

Mesmo que não quer me magoar aconteceram certas frequências,

Mas está tudo bem enquanto não houver consequências.

Eu tenho medo,

Eu cedo,

Acordo de manhã cedo,

Me perco.

Esse poema só surgiu,

Porque a pessoa aqui fugiu,

Tudo novamente por problema fútil,

Da saída dela nada sútil.

Mas tudo bem ela sair por aquele portão,

Mesmo que seja uma briga em vão,

Me deixando em vão,

Me enchendo de escuridão,

Se não é benção é lição,

Sei que dessa saída não tem eternalização.

No final me pergunto se sou bom para esse ambiente familiar,

Se eu consigo me encaixar,

Se de mim irão gostar,

Se posso ter refúgio nesse lar,

Será que vão mesmo me amar?

Tudo bem se eu chorar?

Pois antes desse passado tinha um presente,

E no meu contato desce uma lágrima quente,

Contente,

De atenção incontente,

Mas se não faz por si,

Por ela aguente.

Quero um laço,

Mas não sei onde me encaixo,

As vezes estou um pouco cabisbaixo,

Mas tenho que falar baixo,

Só precisava de um beijo e um abraço,

Mas nessa situação engraçada,

Ela está novamente ocupada...

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 24/02/2019
Código do texto: T6583102
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