Perseguição
Tenho tentado te encontrar
Quando ando de skate na depressão
À espera que surjas na tua forma bipolar
E no momento me estendas as mãos
Às vezes anjo, às vezes demónio
Gosto de ti mesmo assim
E afirmo que se trata de amor
O amor que o mundo negou dar a mim
Tenho tentado encontrar-te bem-disposto
Nas gargalhadas que dás, nas anedotas que mudam o humor alheio
Sei que só exibes as gengivas, por sorte não inflamadas
Para que possa estar em paz teu coração amarelo como o sol
Que no comboio da desesperança é transportado todas as manhãs
A caminho do sossego que não encontras em estradas vãs
E então voas, como borboleta perdida
Pousa em rosas e espinhos, porque tanto faz sua vida
Essa vontade de te ver é incisiva e inquietante
Te quero salvar desse lugar distante
Que separa nossos papos, nossas quenturas e friezas
O bafo da mortandade que nos lapida a beleza
Enquanto procuro equilíbrio nos movimentos básicos
Imagino-me a pegar tuas mãos para evitarmos acidentes trágicos
Tu em cima doutras rodas, fazemos o rolê
Porque é preferível eu acompanhar-te para te não perder
Per-sigo-te com muco nos olhos
De tanto assoar moleza
Querendo saber das coisas novas que fizeste
Conversar por meio de abraços das desgraças que me deste
Dos livros de motivação e auto-ajuda que só te tornaram conselheiro
Porquanto, em casos práticos, fazes merda tu primeiro
Dos teatros da vida real que te fazem desejar a vagina da forca
Das grandes músicas medonhas que escreveste à toa
De per si, persigo-te para te resgatar
Do cafrique sem perdão dessa melancolia
Que te voltou a consumir e hoje faz já o terceiro dia
Em que comes e dormes mas sentes apenas nostalgia
Uma vontade colossal de voltar a ter o que não volta mais
De ter um futuro ora distante, ora impossível, e como isso te desfaz!