Perseguição

Tenho tentado te encontrar

Quando ando de skate na depressão

À espera que surjas na tua forma bipolar

E no momento me estendas as mãos

Às vezes anjo, às vezes demónio

Gosto de ti mesmo assim

E afirmo que se trata de amor

O amor que o mundo negou dar a mim

Tenho tentado encontrar-te bem-disposto

Nas gargalhadas que dás, nas anedotas que mudam o humor alheio

Sei que só exibes as gengivas, por sorte não inflamadas

Para que possa estar em paz teu coração amarelo como o sol

Que no comboio da desesperança é transportado todas as manhãs

A caminho do sossego que não encontras em estradas vãs

E então voas, como borboleta perdida

Pousa em rosas e espinhos, porque tanto faz sua vida

Essa vontade de te ver é incisiva e inquietante

Te quero salvar desse lugar distante

Que separa nossos papos, nossas quenturas e friezas

O bafo da mortandade que nos lapida a beleza

Enquanto procuro equilíbrio nos movimentos básicos

Imagino-me a pegar tuas mãos para evitarmos acidentes trágicos

Tu em cima doutras rodas, fazemos o rolê

Porque é preferível eu acompanhar-te para te não perder

Per-sigo-te com muco nos olhos

De tanto assoar moleza

Querendo saber das coisas novas que fizeste

Conversar por meio de abraços das desgraças que me deste

Dos livros de motivação e auto-ajuda que só te tornaram conselheiro

Porquanto, em casos práticos, fazes merda tu primeiro

Dos teatros da vida real que te fazem desejar a vagina da forca

Das grandes músicas medonhas que escreveste à toa

De per si, persigo-te para te resgatar

Do cafrique sem perdão dessa melancolia

Que te voltou a consumir e hoje faz já o terceiro dia

Em que comes e dormes mas sentes apenas nostalgia

Uma vontade colossal de voltar a ter o que não volta mais

De ter um futuro ora distante, ora impossível, e como isso te desfaz!

Widralino
Enviado por Widralino em 24/02/2019
Código do texto: T6582942
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