Existindo
Para que eu vivo?
Qualquer motivo é mera invenção
Extorsão da realidade
Existência sem finalidade
Sinto-me deslocado
Em uma sociedade burra enjaulado
Fadado à repetição
Reprodução mecânica à exaustão
Sou um infeliz
Às vezes contente
Com riso fraquejante
Sou uma meretriz
Prostituída pelo sistema
Sufocando em meu edema
Capitalizado, consumido, esgotado
Sobrevivo ao meu fado
Ironia: sequer tenho motivos para sofrer
Não passo frio nem fome
E minha companheira é de renome
Mas ainda assim
Um sentimento aflora em mim
De vazio, de tristeza
Consome a mim sua vileza
Estou farto de não pertencer
De desgosto esmorecer
Só o que faço é um verso
Que me ponha longe deste universo.