VOZES QUE CLAMAM POR JUSTIÇA
Leo não percebeu que uma porta bem atrás dele se abriu
Estava confuso, não tinha noção de nada que acontecia
Um vulto em meio a escuridão da sala adentrou, ele não via
Apenas percebeu certo ruído, um só gemido de sua boca não saiu
O vulto, de tamanho descomunal, ali permaceu estático
Enquanto o indefeso homem não se dava conta da situação
Estava ali, inerte, mergulhado numa profunda emoção
Diante de novos ruídos, tentou reagir virando-se, foi enfático
Mesmo na penumbra deu de cara com essa figura dantesca
Estava a certa distância, o sangue gelou e as pernas tremeram
O vulto permaneceu parado, os olhos de Leo de lágrimas se encheram
O pavor o envolveu diante dessa cena bastante grotesca
O tempo pareceu parar para Leo, resgatou cenas passadas
Não sabia se era sonho ou se de fato foi um acontecido na vida real
Lembrou-se do que fazia e do que praticava na Terra de mal
Se viu perdido com suas atrocidades sendo agora mostradas
Medo, angústia, arrependimento, tudo se misturava em sua mente
Tinha como voltar atrás? Impossível. Suas vítimas clamavam
Seus ouvidos nitidamente captavam suas vozes que o chamavam
Pediam justiça, queriam ter paz e tranquilidade somente
O cobrador de uma dívida alí estava, queria receber o que ele devia
Sua mãe, já falecida, em sua frente bem viva o questionava
Pelos seus atos, pelo desprezo, pela forma como lhe tratava
Até seus filhos alí estavam, exigiam penitência pela sua covardia
A bebida o transformou, perdera amigos e também familiares
Vivia pelas ruas, sem trabalho, sem amor, dormindo ao relento
Sentia na pele agora o que mereceu passando por tal sofrimento
E por ter causado angústias e aperreios em centenas de lares
Leo olhou atentamente para a porta que não mais existia
A figura dantesca que seus olhos viram alí não mais estava
Começou a chorar compulsivamente, era o que lhe restava
Acordara sobressaltado numa noite de chuva e muito frio sentia
Se sentiu como um farrapo humano dentro de roupas fedidas
Ao lado de cacarecos que carregava para aqui e para acolá
Não tinha ninguém para conversar, nem para lhe dizer "olá"
Se contentava com a sujeira, o que piorava suas feridas