há um pesadelo na alma do rio
há um pesadelo na alma do rio
flores choram
na beira do rio
pássaros choram
na beira do rio
árvores choram
na beira do rio
mães pais filhos
filhos de filhos choram olhando pro rio
mas a ganância humana
tão humana
tão desmedida ganância
zomba de todos que choram
na beira do rio
árvores de pontos mais altos
choram a morte de tudo lá em baixo
outras árvores animais
assistem aterrorizadas a vaidade humana
a morte do rio
corpos passeiam na lama que não é do rio
passeiam num mar de lama
que estupra a alma
do rio
estupra peixes filhotes adultos mães pais peixes avós peixes tios peixes do fundo do rio
que viola a flora do rio
que viola a alma do rio
e faz chorar Yara
e a expulsa do rio
200, 300 corpos passeiam de montanha russa pela última vez
descem comidos pela lama no rio
de um rio com nome de comida feijão
substantivo feijão
palavra feijão que guiará novas pesquisas virtuais
que não mais alimentará afetos
só envergonhará até o demônio canibal
que vive no fundo rio
corpos que não serão comida de peixes
pois peixes violados não mais existirão no rio
aliás talvez já não haja rio
já não haja um vale
só uma mancha de sangue
no mapa no mapa do brasil
df