A Vida
Eu às vezes me pergunto
Diante de tantas coisas
Por mim vistas ou vividas:
O que é a vida?
Eu às vezes me pergunto
Diante de tantas coisas
Por mim vistas ou vividas:
O que é a vida?
Como pode ser tão linda,
E ao mesmo tempo, tão triste,
Um riso que quer chorar,
Uma lágrima que tenta sorrir,
E raramente, os motivos
Para uma coisa ou outra
Se encontram no mesmo tempo?
A vida é filha de uma dor
Que é enfeitada de flores,
Um jardim encantador
Com mil serpentes em covas,
Um soneto recitado
Que só queria ser trova,
Uma trova mal rimada
Que tenta ser um soneto!
Eu hoje vi um menino
No colo de sua mãe:
Suas mãos sobre os joelhos
Os lábios curvos nos cantos,
E ele tinha um olhar triste,
De quem tem medo de ser,
Enquanto a mãe, impaciente,
Dizia a todos em volta
Que ser mãe era morrer!
E eu então fiquei pensando:
Por que se deve nascer
Despertando de um sonho
Caindo na realidade
Que desde o primeiro instante
Só quer te fazer morrer?
O menino e sua mãe:
Dois estranhos num caminho
Que colocou-os bem juntos,
Por maldade ou ironia...
Ironia dessa vida
Que deu à uma mãe, um menino
Que ela não desejava
E deu a ele, uma mãe
Que filho algum almejaria!
Eu às vezes me pergunto
Diante de tantas coisas
Por mim vistas ou vividas:
O que é a vida?
Para quê, a vida?
Poema escrito ao observar uma cena dentro do ônibus em que eu vinha para casa: Uma jovem mãe, celular em punho, e seu filho pequeno, que aprentava quatro ou cinco anos de idade. Ela entra pela porta da frente, coloca a criança no primeiro banco e dirige-se ao trocador para pagar a passagem, dizendo: "Ai, pra quê ter filhos? A gente deveria nascer estéril." Depois, volta para o banco, e dá um berro: "Fica quieto, pirralho! Deixa de ser chato!"
Em seguida, coloca o menino no colo para uma senhora sentar-se ao seu lado. O tempo todo, a mãe mexe no celular, e o menino tem as mãos entrelaçadas e a cabeça baixa. Parece querer chorar, pois os lábios estão caídos, mas não se atreve. Ele brinca com os próprios dedos, e sempre que se mexe, tentando ajeitar-se na ponta dos joelhos da mãe, ela grita com ele.
A viagem prosseguiu assim, o tempo todo. Fiquei pensando na situação do menino, e no quanto ele deveria estar sofrendo. O que será dele quando crescer?