Memória Palpável

Chuva serena,

Noite que envenena,

É apenas uma cena,

O presente passado que da pena,

Sempre dramaturgo a luz da lua,

De pele suada e alma nua,

Calafrio que atenua,

A falta da minha vida na tua,

Estou bem,

Não temo a ninguém,

Nem mesmo do além,

Pois bem,

Mesmo inconformado,

Infinitamente frustrado,

Eu procuro estar sempre arrumado,

Essa bagunça de passado,

Estou fazendo,

Estou querendo,

Mesmo que me moendo,

Eu tento,

São cenas horrorizadas,

De caixas e mais caixas,

Enroladas em faixas,

Das minhas memórias mais baixas,

Me largo,

Mas não alargo,

Me alago,

Mas não amargo,

É assim, predestinação,

Não exite nada maior que a supervisão,

Querendo saber e não saber,

O que o destino pode prover,

São planos e destinos,

Crucificados em hinos,

São barulhos de sinos,

Em prantos nos termos finos,

Eis me em prantos,

Calando-me em cantos,

Ecoa em tantos cantos,

E são tantos,

Tudo passa,

Se desfaça,

Ache graça,

E dê graça,

Pois nada é de graça,

Boa sorte ou pura desgraça,

Largado a traça,

Quebrando a taça,

Dia de homem, dia de caça,

Que assola toda a raça,

E me embaça,

Mas se quer. Faça,

Então,

Meu irmão,

O último da canção,

Pense na sua crase,

Na sua nova frase,

Nesse ultrage,

Tudo é margem,

É seu limite,

Não me imite,

Tudo consiste,

No quanto consegue apanhar,

Nada de cair só bambear,

Por que não pode se achar?

Aprender e conformar,

Mas acabei de confirmar,

Independente do que seus olhos dizem, vai mudar,

Tudo passa de uma memória palpável,

Um passado amável,

De mágoa descartável,

Aprender,

A se aprender,

Parar de se prender,

O que vier,

E der,

É por que tinha que estar, tinha que ser,

Você e você,

Fez por merecer,

A alma aflita,

Que me finta,

Me contorna,

Mas não borra,

Tudo que a vida proporciona não é por acaso,

E todo seu passado pode ser apagado por um abraço,

Extenda seu braço,

A quem tem seu futuro em mão,

Ela não te ama em vão,

Mesmo não sendo de antemão,

Ela nunca te dirá não.