FELIZ 1964
Eu canto o instante porque a hora é lenta
Como um trem de ferro carregando o dia;
Eu canto a manhã porque a tarde é breve
E a noite se instala em branda agonia.
Eu canto o breu porque a escuridão da noite
Acende as estrelas para que a Lua cunhã
Acorde os fantasmas no despertar dos galos;
Porque galos sozinhos não tecem a manhã.
Eu canto a dor porque amar dói mais
Dor de rebento eclodindo o útero materno
Eu canto a angústia porque estou cheio da morte
Levando os justos pros quintos do Inferno
Eu canto o mar porque a onda que arrebenta
Desfaz o castelo de areia em seus domínios
E a princesa liberta das masmorras do castelo
É a feliz recompensa dos sonhos do menino.
Não cante o passado porque o futuro ainda é hoje.
Destrua a masmorra construída no seu ventre;
Liberte seus sonhos como a princesa e o menino
E, como nos contos de fadas, seja feliz para sempre.