O limão, a dor e o amor.

Tudo que pode fazer quando acordou, foi abrir os olhos, nada mais se movia, exceto os olhos... esses dardejavam de um lado para o outro, como que segue uma abelha ou beija flor em pleno voo.

Sentir-se completamente impotente e desolado e não era novidade ali, quantas vezes seu coração, assim como seu fígado se reconstituíram depois de terem sido devastados. Não sentia-se diferente desta vez, nada podia fazer, e resolveu aceitar isso, mesmo quando sentiu fome e sede decidiu não se mover, afinal, há alguma beleza no torpor da inercia.

Fez em pé, e girou os calcanhares para contemplar a cama, e o travesseiro, novo, com fronhas novas compradas por ele. O problema ali era que havia dois travesseiros, e apenas uma cabeça. Pensou um pouco, "Não seria problema duas cabeças no mesmo travesseiro agora..." e riu-se disso com tristeza.

Não queria pensar muito a respeito, sabia que não seria capaz de extravasar em lagrimas, tão pouco manter uma postura que tudo esta em ordem. Não havia ordem ali. Apenas o mais puro caos. Frases, musicas, lembranças de toda natureza e cenas inapropriadas para qualquer momento como esse inundavam sua cabeça, tratava com respeito cada sentimento, não se opunha a eles, mas o fundo do seu ego sussurrava um insistente "por quê?" e ai, com a cabeça entre as mão se punha num entre pranto .

Recompôs-se, se recusou a dor, limpou o marejo dos olhos, era dia ainda, poderia deixar seu coração partir em mais alguns pedaços mais tarde, assim como o fígado. Ao contemplar da porta seus pés de limão no quintal, e ver um deles desenvolvido e outro quase morrendo (sendo este seu preferido) pensou:

Dei-te água, adubo, te protegi das pragas, te apoiei para ter forças para crescer, e pensei em teus frutos, em nossos frutos e futuros - já não sabia se pensara sobre a planta ou a mulher - Não pode resistir nem a primavera... não suportou nem o iniciou do verão, que deixou pra mim agora? Uma folha a sentir teu cheiro de lembrança, uma folha, uma roupa.. umas musicas e o vácuo que ficará quando chegar a hora de te arrancar de vez. - Se pós a sacudir a cabeça como quem reprova e ao mesmo tempo concorda. - Onde te plantei? Onde deixei fazer morada... E ainda que agora seja eu incapaz, outrora sentira minha mão te agarrando e te extraindo, ignorando a dor causada pelos teus espinhos, e o sentimento uma hora cessará, assim como você e eu, fora da terra, de mim, de ti. O amor, o limão e a dor. Fenecerá.

Diomezio Almeida
Enviado por Diomezio Almeida em 16/12/2018
Reeditado em 16/12/2018
Código do texto: T6528474
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