Ventos surdos
Ei estranho,
onde ouvistes meu nome,
algo em ti me parece familiar,
onde já o vi?
onde já o encontrei?
há verdades em teus olhos,
sinais que me incomodam,
amargas folhas de hortelã,
sinceridades que magoam,
e eu sei que não estás perdido,
sei que falas para ventos surdos,
ouço tua voz muda dentro de mim,
vejo teus passos em tropeços,
uma queda anunciada na relva,
por onde andastes?
de onde viestes?
para onde irás?
e tuas expressões me assombram,
teus gestos me calam a alma,
tento correr na direção oposta,
não quero compreender essa sina,
mas ao olhar-te só vejo a mim,
um reflexo torto num espelho de cristal,
uma imagem distorcida de minhas expectativas,
um não saber de uma viagem sem volta,
um destino falido na jornada de um dia,
estará na minha hora?
os sinos já batem lá fora?
quem tocará o órgão da igreja?
escreva na minha lápide:
aqui jaz o estranho de mim mesmo,
o algoz dos sonhos que não nasceram,
o chamado do corvo soturno,
a foice da morte abreviada,
que mantém a vida no gelo do coração,
transcreve os sentimentos em papel de pão,
para pregá-los no mural da existência...