Lá fora jaz uma noite sem lua.
E as estrelas atônitas
procuram guiar-se.
Formam constelações enigmáticas
E, o silêncio
costura os fonemas
na bainha do tempo.
As palavras em sua voz
soam como passarinhos
voando em neblina
procurando uma semântica
para pousarem.
Finalmente a sua presença
inunda a sala, reverbera pelos
fios tensos esticados no
ambiente.
A presença é uma crença.
No jardim, há um besouro
que é resistente.
Errante e viril.
À espera da noite sem lua
que mais parece uma seresta
sem lirismo.
Você continuava a falar.
A gesticular
Suas órbitas oculares
perfaziam elipses absurdas.
Pois tudo era pequeno e
modesto.
E, eu ali, de pé
a contemplar com semi-riso
a sua imensa teatralidade.
A visão do bastidor
é sempre canastrona.
Depois de todo discurso.
Sentei-me.
Suspirei aliviada.
Retornaríamos a contemplação
pungente.
De rimas intrínsecas.
Ao lirismo incondicional
e ao pasadiço imoral
da vida.
Perdemos mais do que achamos.
Gastamos mais do que ganhamos.
Erosões singelas, ácaros ferozes
e a pele humana vai se depauperando.
Os órgãos, as veias, as artérias
se entopem e falham.
E, as ideias fluem com a velocidade
de um jabuti.
A se arrastar atrás da alface.
Com o tempo,
não há mais saciedade.
não há mais ansiedade.
Os relógios são tolos.
Os punhos são fracos.
E os golpes da história
são cíclicos.
Repetem-se
tragédias pressentidas.
Fecharei a boca.
Secarei a pena.
Engavetarei textos
e poemas.
Usarei o mimetismo dos parvos.
O silêncio é panaceia de tudo.
E os fonemas são o veneno
homeopático.
Morremos, enfim, pela boca.
Estamos perdidos
em achados.
A identidade nos revela
mas nos trai.