Uma noite eterna
Uma noite eterna,
caminhando entre escombros,
fragmentos do que um dia foi a liberdade,
estilhaços de uma democracia destruída,
pichações de ameaças à humanidade,
paredes perfuradas por balas de insanidade,
lugares perdidos em si mesmos...
Uma noite eterna,
respirando a toxidade dos ódios alheios,
a perda completa das esperanças,
insensibilidades hasteando bandeiras,
entre corpos agonizantes de coerência,
a vitória da barbárie sobre a civilização,
ecoa no infinito de um silêncio profundo...
Uma noite eterna,
não há mais lágrimas para chorar,
não há mais fôlego para segurar,
as memórias foram apagadas da História,
os historiadores jazem em cinzas sobre o destino,
a escravidão volta à normalidade dos dias,
enquanto um charuto norte-americano triunfa entre gargalhadas...
Uma noite eterna,
um transe coletivo,
um desvario de pensamentos,
uma ode aos fascismos mais cruéis,
uma chamada ao extermínio da oposição,
ao banimento daqueles que pensem e ajam diferente,
é o país melhor que inscrevem na ausência de um futuro...
Diga pra mim, como reverter isso?
Diga pra mim como não me deitar nesse chão frio e esperar a morte?
Porque deixar de existir entre o mal anunciado é o melhor caminho,
deixar de respirar o perfume dos ressentimentos indiferentes é melhor,
talvez nada mais possa ser feito para mudar esse contexto,
talvez só tenhamos essa realidade amarga a purgar,
açoitados em nossos espíritos que ainda sentem,
quando tudo desmorona na perda dos sentidos...