ALMA DE ICEBERG
Fora doce e meigo na juventude,
Mas a vida foi tirando-lhe tudo ,
Então fechou-se a ela e disse-se feliz,
Sorriu aos que ainda lembravam-se dele,
Certo de que oferecia-lhes um simulacro
De si, conquanto tivesse de ser assim.
Os dias passavam enfadonhos, sempre só,
Carregando sobre as costas toda a culpa,
Ele não prestava, era uma fonte contaminada,
Ninguém beberia de sua água de deserção.
Evitava olhar para o passado de fartura
De sorrisos e abraços aconchegantes,
Os entes queridos que partiram, o grande
Amor que abandonou-o, os fracassos pessoais,
A sede pelo amor alheio agora superada
Com noites frias, nas quais contempla paredes.
Brigou com a cadela, expulsou-a de
Dentro de casa furioso e dormiu.
Ao acordar, deixou-a entrar, recebeu
seus carinhos e chorou, chorou, chorou...