Me Diga Você, que é Santo


Me diga você, que é santo,
Como é que eu posso fingir
Que não existe veneno
No sabor do absinto?

Fingir que não há espinhos
No caule da rosa murcha,
Que eu não sinto o que eu sinto,
Que eu não vejo a garatuja?

Me diga, você que é santo
Como é que eu saio disto:
Perdoar quem nunca disse
Que está arrependido!

Me diga, como é que eu posso
Deitar-me onde eu não caibo,
Encolher a minha alma
Em caixão cheio de saibro!

Me diga você, que é santo,
Como alguém, que há tanto tempo,
É sempre deixada ao relento
Finge não sentir o frio,
Finge não temer o vento!

Me diga você, que é santo,
Já que eu mesma, não entendo,
Me diga você, que pode,
Como eu finjo o que não sou,
Como eu me reinvento?





 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 01/10/2018
Reeditado em 12/12/2018
Código do texto: T6464530
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