Tristrilha
Me trouxeram de outro lado, eu acho.
Algum canto que não é esse aqui.
Eu vim de mãos dadas, seguras,
e os nossos sorrisos
espantavam os cachorros
que sempre rosnaram pra mim.
Era outro caminho,eu lembro.
Era um que eu não fazia.
Só acordava, dizia bom dia,
e seguia.
Tinha um sol forte que iluminava,
e eu acho que também ardia, mas eu não sentia
porque brilhava muito mais quente.
Eu lembro que os passos eram largos,
como de todo mundo enquanto cresce as pernas,
meio que para acompanhar todas as peripécias
que vinham desenhando para mim.
Eu lembro também, da trilha branda e fácil,
de me sorriram sem muito sermão,
me deixaram a faca,o queijo e um mapa, na mão.
E eu acabei esquecendo em algum lugar
(como eu sempre faço).
Hoje eu passo horas aqui.
Não sei onde.
Plantado, triste, e tonto,
refletindo onde foi o ponto e não encontro.
A bifurcação que eu tomei errada.
A casa que eu não devia ter entrado.
A travessa que não devia ter pego.
A ferramenta que eu devia ter largado.
A doença que peguei nessa selva.
Na tristrilha, tudo é escuro e frio.
O sol até existe, mas agora não arde
porque é sempre noite aqui dentro.
Os cães me ferem e não assustam.
E sempre tem as demais criaturas
que eu deixo ir levando pedaços de mim
pra ver se fico mais fácil de carregar.
Eu queria traçar com meus próprios pés
uma linha de chegada, bem pertinho de mim.
Contudo, me jurei que não.
Com tudo, decidi que sim.
Que sairei daqui.
Antes que essa floresta negra
desemboque no vale do fim.