Quantos?
Quantos poemas começam com uma música triste
E um quarto solitário
Vagamente preenchido por um único corpo e nenhuma alma?
Quantos poemas começam com lágrimas que não podem ser derramadas
Pois são profundas demais para conseguirem escorrer?
Lágrimas que não são resultado de um momento triste qualquer
Mas fazem parte de um estado de espírito que reaparece toda vez que as distrações acabam?
Quantos poemas carregam as piores sujeiras e dores da humanidade
Mas parecem bonitos por serem cheios de metáforas e rimas?
Quantos eus-líricos são assassinos ou suicidas tentando se manter na linha?
Por quantos crimes seria condenada se meus poemas fossem lidos ao pé da letra?
E quantos anos de insanidade viveria se minha pena fosse nunca mais escrever?
Quantos poemas terminam com um pedido de ajuda?
Quantos poemas transformam carência em luxúria
Tédio em aventura
Solidão em romantismo
Fraqueza em escapismo
Esperando que alguém consiga ler nas entrelinhas?
Quantos poemas continuam vivos para sempre
Mesmo quando a vida dentro do poeta já terminou?
Quantos sorrisos e salvas de palmas a tristeza e a desesperança conseguem arrancar?
Quantas pessoas encontraram minhas dores belamente encapadas na estante de uma livraria
E as levaram para casa para ler deitadas no sofá?
Quanto dinheiro essa tristeza rendeu para algum editor?
Quanto de mim perdi nos versos que tentei usar para me salvar?
E quanto de mim ainda resta?
Quanto resta de qualquer um de nós nesse mundo que vê ódio em qualquer lugar
Mas não consegue enxergar esperança mesmo que ela se ajoelhe aos seus pés
E não consegue estender a mão mesmo que o pedido de ajuda seja posto em suas mãos
Escrito em letras maiúsculas com uma caneta amarelo neon?
Quanto vai restar quando largar minha pena e for cumprir minha pena?