A INCONSISTÊNCIA DO ESCURO



De repente, a escuridão impregnou a alma

E se desfizeram os arquétipos e as imagens vis,

Tu choravas com a face fria e calma,

Mas secaste as lágrimas e, agora, sorris...




No breu, entretanto, sorrisos são vãos,

Não há mais a intrépida luz refletindo em máscaras mil,

Nem lídimas esperanças, nem segredos sãos,

Só há sensações amorfas de imagens que alguém sumiu...



O que é o escuro senão a inconsistência plena

Dessa existência virtual que se dissipa, aniquila e envenena

O ego martirizado por dentro da tênue carne,

Efêmera em sua própria eternidade, silenciosa em seu alarme ?



No escuro, enfim, não há sombras do que fazemos,

Nem resquícios dos lugares aonde fomos,

No escuro não somos nada mais, nada menos

Do que as estranhas criaturas que nós somos.