Desilusão
Mais um dia de agosto
Dia de ser um gigante, antes que acabe
Essa nuvens de tão longe me trazem lembranças
O que eu vejo, vejo, translúcido
Perdi o tempo, porque o relógio enlouqueceu
As horas se passaram e eu já era cinzas
Caíram lágrimas de lassidão, tudo tornou-se
Um punhado cortante de bravura morta
Foi como se minha força se tornasse pó
Mais a frente e no fim
De cada esquina, de cada sonho
Esparsas memórias, chuva de setembro
De quando eu vivi como um deus
Escrevo as dores porque não há pátria
Aonde esteja feliz e as noites terminem
Germinam terríveis, queimam por dentro
Da alma, saudades de quando a vida era sol
Eram dias de primavera e todo dia era um dia
Revelavam-se no céu verdades infindas
Colorindo-se de angustia e lamentos
A escarpa que cresceu por dentro fez do menino
O menino que queria ser algo, o menino era as flores
E as flores murcharam, soldadinho covarde
Pisoteia, como folhas secas, sem vida
Abrasam, feito chagas, em outonos de dor
De tão longe eu só vejo o que sei
O que sei que fui e deixarei de ser -
Quando perdi o norte, e meus pés se tornaram um fardo
Quando de súbito, a verdade veio aflorando a sina
Sempre ingênuo mas de peito aberto, nunca esqueci
Os silêncios que se traduziam em carne
Quando me disse, meu amor contou-me
Os olhos de abismos sem cor, mas intensos
Agarre-se a minha mão, disse-me ela
Há muito, foi como um raio
E acordo como se vivo, e escuto
-"Ainda o amo e viveremos felizes"
Ainda digo a ela que isso não é o fim
As promessas são lilases mortas
Esvanecem e fazem dos homens
Os mais frágeis - aqueles que sonham
Um punhado de cacos
Que se consolam com um pouco de crença
Que as feridas se curassem feito mágica
E em um instante
Tudo seria como se o mundo ainda fosse um mistério
As decepções seriam alegres, e as desilusões
Teriam gosto de algodão-doce
Mas quando era criança, alguém me disse
Que as dores no coração permanecem