Réquiem de um Apaixonado
Eu só consigo ver teus olhos...
Seja ao dormir ou ao acordar, eles me perseguem.
Negros e sem brilho,
feito mármore empoeirado posto em deslumbramento
sob a última morada.
Neguei a minh'alma, teu sorriso.
Refutei pensamentos, jogando - os em um abismo.
Tracei um nó...
Um laço negro feito em seda
que selasse minha garganta e calasse minha voz
para que não proclamasse palavras
que dessem curso a minha maldição.
Fonte de minha eterna ruína...
Declamei palavras vagas... Vazias...
Na esperança tola de enganar tua morte
e não enfrentar despedidas.
Mas foi em vão, pois vozes as proferiam
Enquanto os anjos choravam
traçando a rota de minha triste sina.
Esquivei - me de investidas
que usurpavam o conforto e a segurança de teu abraço.
Em meus lábios jazia teu nome,
como uma oração á um deus pagão,
como verbo profano de língua proibida,
como canção afeiçoada á mim, para enfeitiçar.
O fim iniciava sua derrocada ao se aproximar.
Prendia - me em teus braços quentes,
como visita cansada que chega de longa viagem.
Morreríamos jogados ao pó de um deserto intransponível.
Á míngua, em desamparo e desespero.
Selaríamos com lágrimas
a sepultura moldada por sentimentos de platonismo efêmero.
E enterraríamos junto ao sangue, nosso segredo triste.
"Você ainda soa como canção de despedida.
Aquela banhada em solidão esmaecida em folhas antigas.
Em tons outonais de marrom envelhecido.
Em papéis machados pelo tempo e corroído por traças..."
Agora enxergo teus defeitos e mazelas
Os vincos que agora lhe marcam a face
e deixam visíveis o adeus de tua mocidade.
Imagino em meu peito,
a chegada de teus cabelos grisalhos
e das rugas que o tempo lhe dará em dádiva pela sabedoria adquirida.
Neste momento,
chora minha pobre alma por que não irá te acompanhar.
Morre em minha boca o gosto suave e simples de um: EU TE AMO.
Encerrando assim, nossa vã existência...