Enfeiamento
Hoje eu me vi no espelho
Hoje eu me vi nas rachaduras
O meu rosto não parece o mesmo
Cadê aquela doce beleza?
Vou dedilhando os detalhes
Os contornos, as expressões
Eu sei bem o quanto tenho beleza
Mas eu sinto que estou desfigurado
Tento enxergar o fundo dos meus olhos
É tanto medo que não consigo ver ou sentir
É como uma janela que está fechada
Não há nada que eu possa ver dentro
Eu toco em minhas próprias mãos
Elas estão tão trêmulas, assustadas
E o meu coração já não sinto mais na palma
É como se estivesse em uma linha reta, opaca
Vejo que não estou usando mais minha melhor roupa
Eu escolhi a dedo como forma de me esconder
Pois sei que nada mais sou do que uma carne
E que me mesmo escondido, todos dão um jeito de apreciar
O espelho fica turvo, não vejo mais
Dou um jeito de limpá-lo, mas eu não consigo
Apenas vejo pequenos pontos de mim
Pontos esses que são meus machucados
Se me restou algum sentido, são minhas lágrimas
Eu já não encontro mais nada em volta de mim
São sete horasm eu preciso enfrentar a vida
Com um silêncio e palavras escritas em um celular