Velho de papel
A vividez me escapa
Como mosquitos no escuro
Tenho as mãos escorregadias
Sujas de preocupação
Gordura e muco
De tanto pensar merda
O pessimismo afia as unhas
Não reduz a dor nas costas
Sinto-me mais perto do fim
Que prefiro andar nas calmas
Não corro mais por nada
Não há metas a atingir
Sem aversão à diversão
Ainda estimo a adrenalina
Só vejo graça em não ver graça
O ânimo me desanima
Abaixo da metade de meio século
E já avisto o meu sepulcro
Como os falsos irão chorar
Os meus amores sofrer
Ao mesmo tempo
Duvido da falta que produza
Não me peçam mais calma
Não tenho o espírito santo
Exótico
Tenho mais problemas que saúde
Mais doenças e descrenças
Do que força para viver
Vejo jovens radiantes
Apesar de cabisbaixos
Olho para mim no espelho
Sou um velho de papel
As rugas interiores
Machucam a aparência
A barba rija me condena
O semblante dá a sentença
Cada vez mais longe de mim
Mais distante do meu tempo
Mais perto do fim
Mais próximo do tormento.