Velho de papel

A vividez me escapa

Como mosquitos no escuro

Tenho as mãos escorregadias

Sujas de preocupação

Gordura e muco

De tanto pensar merda

O pessimismo afia as unhas

Não reduz a dor nas costas

Sinto-me mais perto do fim

Que prefiro andar nas calmas

Não corro mais por nada

Não há metas a atingir

Sem aversão à diversão

Ainda estimo a adrenalina

Só vejo graça em não ver graça

O ânimo me desanima

Abaixo da metade de meio século

E já avisto o meu sepulcro

Como os falsos irão chorar

Os meus amores sofrer

Ao mesmo tempo

Duvido da falta que produza

Não me peçam mais calma

Não tenho o espírito santo

Exótico

Tenho mais problemas que saúde

Mais doenças e descrenças

Do que força para viver

Vejo jovens radiantes

Apesar de cabisbaixos

Olho para mim no espelho

Sou um velho de papel

As rugas interiores

Machucam a aparência

A barba rija me condena

O semblante dá a sentença

Cada vez mais longe de mim

Mais distante do meu tempo

Mais perto do fim

Mais próximo do tormento.

Widralino
Enviado por Widralino em 01/07/2018
Código do texto: T6378512
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