Só o sol e as sombras no estio da tarde.
E um calor saindo do chão
A beleza do cactus
A densidade filosófica do deserto
E o vento a sussurrar parábolas.

Só o sol com seu brilho pungente
A queimar nossas vistas míopes.
A transformar tudo em luz.
E a morrer ao fim da tarde.
Dançando tango para a noite
O vir-a-ser
A primeira estrela a brilhar.
A primeira palavra a ouvir.

O som de sua voz atravessa
os umbrais da consciência.
Dói pensar que já não posso mais ouvi-la.
Que não posso mais conviver.

Os caminhos feitos sobre a areia
O mar apagou
Os caminhos percorridos na memória
a tristeza apagou
Com doses de silêncio e renúncia.


Lembro de seus passos
Compassadamente arrastados
Decorando o assoalho
Com melancolia e culpa.

O fato de você me agredir
fisicamente
tirar de mim sangue e ódio.
Deixar hematomas e dores
E a culpa sub-reptícia.
Plasmada nas paredes cúmplices.

Só sol.
A caminhada difícil.
E a sede como triunfo tardio.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 26/06/2018
Código do texto: T6374909
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