NO CÉU DA BOCA
NO CÉU DA BOCA
nos céus
nuvens eram tatuadas
pelos braços do vento
no céu da boca
silêncios eram abafados
pelas falas emudecidas
línguas brancas
lambiam os matizes do dia
e a tarde quase tardia
desardia empalhada na noite
havia sonho ainda
que não sonhado adormecia
sonho mudo que fosse
no fosso labiríntico da garganta
perdido
sonho de tantos dias
morrido
nas noites quietas
de tantas vozes tontas
feito baratas
tantas vezes baratinadas
enroscadas nas próprias asas
de voos rasantes
nunca dantes apropriados
pelos olhos da noite
passavam nuvens
pelo açoite do vento vergadas
interditadas pela voz inaudível
e na boca
um gosto de sal
e no sal
o desgosto do céu
Mírian Cerqueira Leite