AS CINZAS

Assim que tudo se transformar em cinzas

Vou encher meus pulmões de gases tóxicos

Mas a lembrança que lateja em meu cérebro

Dá-me a certeza de que nem sempre foi assim

As manhãs de sol preguiçoso no lado leste

E a feira nos vendendo frutas e convivências

Tangendo um viver tão simples e tão sincero

Fragmentos de um céu possível entre os montes

As tardes de trabalhos e observações quando eu

Esse eu que talhou madeiras e palavras em versos

Para construir o mundo objetivo e subjetivo

Para amparar corpos e almas da minha espécie

E as noites que chegavam sem nos amedrontar

Sem precisarmos lutar contra nossas sombras

Ou então viajar pelo portal de um copo de veneno

Em bares ou em lugares nada recomendáveis

O cinza da aridez de uma paisagem que morreu

É tudo que tenho além das doces lembranças

Em dias que o pão não passa de uma saliva seca

Engolida junto com a lágrima que desceu ao acaso

Pelo sulco no rosto que já recebeu carícias de tuas mãos

Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 03/06/2018
Código do texto: T6354716
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