Comi seu coração
Com uma dentada voraz
Com minha fome de afetos

Comi seu coração
Com os olhos lânguidos
Com a boca sedenta 
Com as mãos habilidosas

Que torneiam o mundo
Que contornam abismos
Que gesticulam silêncios

Comi seu coração
sangrando de dor
de carências radioativas
De dores contagiosas
Dei-lhe a cura.
Ou a ilusão da cura.

Por digeri-lo
com misericórdia,
com parcimônia
Com o tempero do tempo
Com o adstringente da maturidade

Depois...
Bem depois
quando as ilusões acabaram
Devolvi seu coração 
totalmente digerido

Repleto de cicatrizes
evolutivas...
Sua emoção inteligente
se abriga agora
numa alma
quase consciente.

Comi seu coração.
E lhe devolvi
a capacidade de amar.
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 30/04/2018
Reeditado em 16/08/2019
Código do texto: T6323583
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