LÁ FORA (Padroeiro dos Esquecidos)

I

Eu pensei no que comer

às 02:27 da madrugada.

Havia carne de hamburguer

feijão enlatado.

e ingredientes pra se fazer salada.

Eu pus uma parte da salada

pra esquentar, enquanto abria

um saco, com umas folhas

que comprei no mercadinho...

Eu não faço a menor ideia

do que sejam essas folhas

e agora as observo, paradas

no meu prato, patéticas...

elas não parecem comida

pra mim... com todo o seu aspécto

de comida de coelho.

II

E enquanto isso, chove

lá fora...

E os bêbados, mendigos

tarados, drogados e esquecidos

estão lá fora também.

... sei que existe gente de bem

mas não é divertido

falar do que é bom

num poema,

... mesmo que o poema esteja

além do portão...

Eu preciso do trágico

preciso tirar o meu coração,

do meu peito, e carregá-lo

com a mão.

III

Por isso penso nos tarados,

malditos tarados que deveriam

ser presos, espancados,

e currados.

Penso nos drogados

e queria que eles parassem

pra respirar o ar

o mesmo ar que eu respiro.

Penso nos mendigos

que não existem por aqui

mas a cidade de Salvador

ainda mora, bem aqui, dentro de mim.

Penso nos bêbados

e desejo poder vê-los

bebendo água, ou suco

da fruta... pelo menos uma vez.

Penso nos esquecidos

e percebo que me esqueço

como é que se rima, quando

penso neles.

Penso no poema

que fiz agora...

Pensando na vida que dorme lá fora.

E que se eu não estivesse

no quarto.

Mas sim, pelo mundo lá fora...

Talvez escrevesse

um poema menor

e muito mais bonito

que esse.