DESISTÊNCIA
Como a manhã que nasce sem brilho
É a música sem o estribilho.
Como a tarde que chega sem progresso
É a caminhada sem rumo e sucesso.
Com a noite que se aproxima sem êxito
É a tentativa frustrante e neutra.
Como o diálogo que não se concebe
É a ar que falta e não se procede.
Como o espaço que encontra-se ínfimo
É o olhar que não encontra seu íntimo.
Como uma lágrima que insiste em rolar
É o passo arrastado sem lugar.
Como a expectativa que foge ao controle
É o pensamento em total descontrole.
Como o desejo de gritar sem cessar
É a fala que não quer calar.
Como a espera por um mínimo de compreensão
É passo dado em outra direção.
Como um sorriso perdido no deserto
É a dor de ter um dia encoberto.
Como a marca que fere como brasa
É a ansiedade que vem e arrasa.
Como esperar por um tempo diferente
É sentir-se insignificante e ausente.
Como a um passo da própria desistência
É o resultado de uma consequência.
Como a espera de uma nova madrugada
É ter na aurora a ânsia esperada.
Como fechar os olhos para o infinito
É aceitar o revés na alma e contrito.