DESISTÊNCIA

Como a manhã que nasce sem brilho

É a música sem o estribilho.

Como a tarde que chega sem progresso

É a caminhada sem rumo e sucesso.

Com a noite que se aproxima sem êxito

É a tentativa frustrante e neutra.

Como o diálogo que não se concebe

É a ar que falta e não se procede.

Como o espaço que encontra-se ínfimo

É o olhar que não encontra seu íntimo.

Como uma lágrima que insiste em rolar

É o passo arrastado sem lugar.

Como a expectativa que foge ao controle

É o pensamento em total descontrole.

Como o desejo de gritar sem cessar

É a fala que não quer calar.

Como a espera por um mínimo de compreensão

É passo dado em outra direção.

Como um sorriso perdido no deserto

É a dor de ter um dia encoberto.

Como a marca que fere como brasa

É a ansiedade que vem e arrasa.

Como esperar por um tempo diferente

É sentir-se insignificante e ausente.

Como a um passo da própria desistência

É o resultado de uma consequência.

Como a espera de uma nova madrugada

É ter na aurora a ânsia esperada.

Como fechar os olhos para o infinito

É aceitar o revés na alma e contrito.

NEUZA DRUMOND
Enviado por NEUZA DRUMOND em 07/04/2018
Reeditado em 07/04/2018
Código do texto: T6301970
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