Poeta Morto

Nas vidas que carrego na ponta dos dedos

Uma fraca respiração sustem minhas letras

Recrio o alfabeto e vou à lua com as vogais

Contra quem me vê da ribalta produzo um recital

Meu sorriso mecanizado inventa ser gentil

Exala alegrias sem estados para abraçar a simpatia

Mas no fundo é a desgraça que faz os versos se escreverem

E sair poemas pelos poros para aqueles que não lerem

Eu invento meus momentos

Industrializo minha inspiração

E quando as minhas almas escapam do meu corpo

Resgato-as através da concentração

Aproveito o cacimbo para dormir e pensar

Repensar no futuro para continuar a ignorá-lo

Porque expectativas são deprimentes mas fáceis de alimentar

Quando a voz interior fala comigo, finjo estar atento e então calo

Ora, é só teatro

Não levo mais nada sério em mim

Sou um carteiro

Distribuidor de linhas frenesim

Evito às estrofes causar lesões

Mas para dar início ao termo de tudo

E indiferente torna-se a sequência de desilusões

Que deixa o saudável enfermo

Proclamo insurreição pelo mundo

Contra quem me quer matar a insurdescência

Pois sou mais vivo a ignorar o que se passa

Pelas vias da má influência

O barulho das palavras tende a educar

Quem as ouve visitando-as

E ao eliminar esse som da minha própria cabeça

Escrever ainda é bom

A tristeza tem vida própria

Anda comigo a tempo inteiro

E entretanto, para registar o que é legível

Tive que morrer primeiro.

Widralino
Enviado por Widralino em 05/04/2018
Código do texto: T6300172
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.