Poeta Morto
Nas vidas que carrego na ponta dos dedos
Uma fraca respiração sustem minhas letras
Recrio o alfabeto e vou à lua com as vogais
Contra quem me vê da ribalta produzo um recital
Meu sorriso mecanizado inventa ser gentil
Exala alegrias sem estados para abraçar a simpatia
Mas no fundo é a desgraça que faz os versos se escreverem
E sair poemas pelos poros para aqueles que não lerem
Eu invento meus momentos
Industrializo minha inspiração
E quando as minhas almas escapam do meu corpo
Resgato-as através da concentração
Aproveito o cacimbo para dormir e pensar
Repensar no futuro para continuar a ignorá-lo
Porque expectativas são deprimentes mas fáceis de alimentar
Quando a voz interior fala comigo, finjo estar atento e então calo
Ora, é só teatro
Não levo mais nada sério em mim
Sou um carteiro
Distribuidor de linhas frenesim
Evito às estrofes causar lesões
Mas para dar início ao termo de tudo
E indiferente torna-se a sequência de desilusões
Que deixa o saudável enfermo
Proclamo insurreição pelo mundo
Contra quem me quer matar a insurdescência
Pois sou mais vivo a ignorar o que se passa
Pelas vias da má influência
O barulho das palavras tende a educar
Quem as ouve visitando-as
E ao eliminar esse som da minha própria cabeça
Escrever ainda é bom
A tristeza tem vida própria
Anda comigo a tempo inteiro
E entretanto, para registar o que é legível
Tive que morrer primeiro.