Delírios

Possuo segredos que eu mesmo desconheço

Essa tendência de estar aborrecido por nada

Sorrir para inventar boas emoções e vibrações positivas

É algo que os anos nunca me conseguiram fazer entender

Quanto mais velho, mais caduca é a minha simpatia

Sinto a morte nas costas mas não consigo tirá-la

A deprimência desperta em mim curiosidades

E a necessidade de relembrar o esquecido

Coisas tristes e horrendas, a agonia exige exorcismo

Sou antipático e rude com quem vejo ao olhar pro espelho

Dispenso a minha companhia e de qualquer outra pessoa que seja

Imploro para que a minha alma se livre do eu morto

Mas, para a minha infelicidade

São os mortos que ficam

Só os vivos têm salvo-conduto para a morte

A vida é uma ilusão que dura anos, somos todos fantasmas

Agora eu sei demais que me baste

Que me decepciono por esperar que as pessoas me entendam

A existência do Senhor é um enorme mistério

Que por acontecimentos faz-me crer que não quer saber de mim

Por isso, ao andar nos tantos vales de sombras dispersas

Minhas mortes estão grudadas em mim

Eu mesmo me dirijo para um cemitério todos os dias

Através de delírios que uso para fugir da melancolia

Divorcio-me da comida até ganhar enjoos

E nessa competição de actividades pré-digestivas

Corto a meta onde existe a possível prossecução de desmaios

Ponho alegrias na cabeça, para ver se me minto de ser feliz.

Widralino
Enviado por Widralino em 02/04/2018
Código do texto: T6297454
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