Delírios
Possuo segredos que eu mesmo desconheço
Essa tendência de estar aborrecido por nada
Sorrir para inventar boas emoções e vibrações positivas
É algo que os anos nunca me conseguiram fazer entender
Quanto mais velho, mais caduca é a minha simpatia
Sinto a morte nas costas mas não consigo tirá-la
A deprimência desperta em mim curiosidades
E a necessidade de relembrar o esquecido
Coisas tristes e horrendas, a agonia exige exorcismo
Sou antipático e rude com quem vejo ao olhar pro espelho
Dispenso a minha companhia e de qualquer outra pessoa que seja
Imploro para que a minha alma se livre do eu morto
Mas, para a minha infelicidade
São os mortos que ficam
Só os vivos têm salvo-conduto para a morte
A vida é uma ilusão que dura anos, somos todos fantasmas
Agora eu sei demais que me baste
Que me decepciono por esperar que as pessoas me entendam
A existência do Senhor é um enorme mistério
Que por acontecimentos faz-me crer que não quer saber de mim
Por isso, ao andar nos tantos vales de sombras dispersas
Minhas mortes estão grudadas em mim
Eu mesmo me dirijo para um cemitério todos os dias
Através de delírios que uso para fugir da melancolia
Divorcio-me da comida até ganhar enjoos
E nessa competição de actividades pré-digestivas
Corto a meta onde existe a possível prossecução de desmaios
Ponho alegrias na cabeça, para ver se me minto de ser feliz.