APENAS UMA BONECA DE PORCELANA

Na estante decorada, consigo ela chora

E verte dos olhos vítreos lágrimas de solidão

Que denuncia intimo desejo, que a face cora

Surgido no claustro da mais rude prisão.

E não entende porque fora feita assim

Vendo a alegria apenas em faces alheias

E tendo por companheira uma dor sem fim

E um destino eterno, como eternas areias

Seria pecado sentir, num singular instante

Quem sabe um toque, um roçar de dedos

E se entregar a um abraço aconchegante

Preenchido do calor de apaixonados beijos

Mas, o coração está povoado apenas de ilusão

Que desperta um desejo que não se pode ter

Pois permanecerá muda e singela decoração

E nada, além de boneca de porcelana, há de ser.

Quinho Barreto
Enviado por Quinho Barreto em 22/03/2018
Código do texto: T6287939
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