FÁBRICA

O mundo nos revela uma fábrica de dores ?

No fundo, as cores vestem os passos nos dias

Como profundo enigma que só os amores

Poderão transformar em flores sós de alegrias,

Aqui, em nós, além de mil dissabores... 


E na tempestade das idéias sós,

O tempo desaba em nós,

Nos ponteiros sóbrios do afeto,

Tão premente e sem-teto

Que a mente se faz de chama,

Na sensatez de quem ama,

Além dos dias que vão,

No sincretismo de um coração incauto,

Neste sobressalto de emoção !


Então, o que fazer das fábricas de lágrimas sós ?

Como transformar a estupidez do mundo em calma ?

No fundo, o sonho que desaba em nós

Poeticamente nos alimenta a alma,

Mas a dor continua, ainda assim, atroz,

E, no fim, veloz como o verso em palma.

 


Quadro acima:
Pintor Pablo Picasso, "A fábrica".
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