Origens
Venho de um lugar vazio
Sem ajuda humanitária
Um armazém de negrume
Apesar de tanta luz solar
Um sítio dividido
Entre quem festeja e quem lamenta
Os ricos batem palmas
Os pobres são abatidos
Mas morrer que é precioso
Ainda não vale a pena
Somos assaltados as vidas
O carro-bomba que temos
Para lutarmos por elas
Com aquilo que aprendemos
Mas falsificam o ensino
Tiram-nos a saúde
Dão-nos fome em vez de comida
Não nos deixam sair
Para falar, manifestar-se
Para trabalhar, para ajudar
Venho deste lugar
Pessoas ficam para trás
Adoram ser esquecidas
Não se querem ter para sempre
Querem ser saudade
Os sentimentos são peixes
Mal conservados, apodrecem
O amor não cria raízes
No coração de quem pode
Ajudar a salvar vidas
Aprendemos o que é sofrer
E depois disso morremos
O vento sopra, casas caem
As nuvens são baixas
As chuvas calam as músicas
Choros despertam
E as palavras já não saem
Ficam presas na garganta
Enquanto experimentamos a dor
De perder o nada
A única coisa que nos resta
E que sempre tivemos.