Consolações
Os meus olhos tão fixos no passado
Os mesmos olhos que outrora
Deitaram olhares tão carinhosos
Hoje choram - Olhos rubros de sangue inflamado!
Os meus olhos guardam as nossas vidas
Lacrimosos do que elas poderiam ser;
Oh, como me dói esta terrível sina
De não poder te esquecer!
Ou então, os meus lábios...
Eles guardam o doce mel dos teus -
Noites sem fim em que se tocaram,
São agora desertos sem Deus.
Se soubesse que um derradeiro beijo
Teríamos neste dia dado
Prolongaria em eterno o momento
Tornando-o Imaculado!
Eu vivo preso em um mundo distante
Onde as feridas - fundas que são -
Mostram-se incuráveis e incessantes;
É um mundo sem você!
Não há remédio
Tampouco remendo
Tomado pela moléstia
Pelo cancro e pelo veneno!
Ainda assim, trago as minhas mãos
Que muito te afagaram -
Trago-as como um odioso pagão,
Como irmãos que nunca se amaram.
E com estas mesmas mãos
Munidas de adaga ancestral e corroída,
Apunhalarei meu próprio coração (já apodrecido)
Fugindo desta miserável vida!