Rabisco de mim

Entre todas as vidas que tenho

Entre sonhos relutantes e vorazes

Há desejos independentes e capazes

Que rabiscam um futuro ao qual desdenho.

Vivo o que tenho mas não o que sonho

Tudo o que me veio foi descuido do destino

Do qual não tenho as chaves, tolo inquilino

Um balé sem graça num palco tristonho.

Apaguem as luzes e cerrem as cortinas

De que vale esta vida se não a coordeno?

Que valor tem a cura se eu sou veneno?

Entre soluços e goles dissolvo rotinas.

Todos os retalhos ao longo dos anos

Que juntei me refazendo dia-a-dia

Me vestiram sem pudor em plena fantasia

Escondendo até de mim meus muitos danos.

Meu rosto se desdobra em muitos rostos

Máscaras de um triste fim de carnaval

Minha imagem no espelho sempre igual

Refletindo sentimentos tão expostos.