Perpétuo
Há algo de errado em minha vida
E como eu queria estar mentindo para vocês...
Esse pequeno fio de vida
Que os fala já respira com a ajuda de aparelhos
Na rua não há, nos amigos não há, no seu quarto só não há.
Ele não é.
A situação é exata: é criminoso e merece sofrer demasiado.
A vida dolorosa não foi suficiente, mas sim merece uma morte longa.
Estou morrendo há um ano e a cada dia morro mais,
Apenas para fazê-los mais felizes e satisfeitos.
Afinal de contas, eu sirvo para deleites e sou exatamente o que esperávamos:
Pronto; breve; completo; correto. Exato.
Pleno em todas as minhas limitações.
Tolice a minha proteger toda essa ninhada que eu sempre fiz questão de agradar.
Minhas costas estão calejando e não há mais tempo.
Rápido! Alguém! Tem que ter mais alguém.
Eu suplico mais uma noite por alguém!
Os pontapés, socos e gritos não foram suficientes
Há de ter mais alguém...
Ou isso, ou meu propósito estará corrompido.
Sejam piedosos e me sabem logo
Para que esse hipócrita grite cada dia mais alto
Até que todos os textos não lidos, morram junto comigo,
Assim como a vontade de escrever
Eu peço que tenham piedade de mim
E me dêem mais um golpe
Certeiro, na têmpora, na nuca
Mas não no peito, pois esse já não serve.
Carne podre não se é consumida
Os seres humanos da mais alta classe
Não merecem esse insulto
Peço perdão
Depois de perder todos os sentimentos
E viver de vazios, hoje enxergo meu real propósito:
Ficar vivo para que os outros não se sintam culpados,
Mas para que me culpem a cada dia que me sobrar.
Eu peço desculpas por
Tentar exercer algo que não era de minha competência;
Ter tentado proteger alguém que sempre esteve tão bem sem mim.
Eu troquei minha liberdade por sua saúde
E hoje quem está doente sou eu
Mas não se preocupem,
Não estou forte o suficiente para revidar
Vocês já não afetam tão bem
As unhas perderam o corte
Ou a carne calejou?
Eu não sinto mais nada
Cair em parafuso seria um grande privilégio.