Vejo-me
Ontem me disseram
Que o brilho
Dos meus olhos
Se esvaiu
Eu tentei encontrar
Palavras em meio
Ao choque
Que gelou minha alma
Engoli letra após letra
O gosto amargo
Da verdade
Vista pelo brilho de outra retina
É difícil explicar
A nitidez dessas ideias
Quando o brilho encontra-se
Por detrás da minha íris opaca
A rotina que assola o corpo,
O embaraço da mente
Frente às mazelas do dia,
Ferem o sorriso, apagam a nitidez
O coração ferido e recém apaixonado
Agora se comprime
Em meio a tantas mágoas
E um ciúme tolo, visível
Enxergar além do que se vê
É capacidade de quem
Aprendeu a sorrir
Com os olhos
Manter os olhos abertos
Em meio a tantas fragilidades
Do ser humano em frangalhos
É tão difícil quanto enxergar-se por dentro
Ontem me disseram
Que o brilho
Dos meus olhos
Se esvaiu
Talvez seja resquício
De um passado
Não tão distante
Que vi passar por mim
Aquele passado de ontem
Parado na esquina
Das memórias em luto
Visitadas por muitos à olhos nus
Sim! A dor parece-me algo familiar
E talvez por isso
Eu não enxergue essas
E outras verdades
Pois meus olhos
Fecharam-se para o mundo
Mesmo sendo obrigado
A abrí-lo de segunda à segunda.