PEGADAS NA AREIA
Um vulto passeia pela praia. Está só.
Vaga como vagam seus pensamentos
Na solidão que habita sua vida.
Seu olhar navega pelo horizonte
A buscar, quem sabe, um sonho.
Não importa se seus pés deixam marcas na areia,
As ondas do mar continuam a apagá-las
E o vulto continua só, caminhando.
Assim vago pela Praia do Pontal.
Deixo minhas pegadas na areia,
Talvez esperando quem me encontre.
A maré encheu,
Cada onda em seu refluxo
Vai apagando devagarzinho o meu rastro,
Até que coisa alguma reste.
Mas não sei por que, a esperança,
Verde como o mar profundo,
Teima em perambular pelas praias alvacentas
Pisando conchas vazias, já sem vida,
Esperando um outro par de pegadas
Que possam acompanhar meus passos,
Colhendo as pérolas que deixei, abandonadas.
Ainda há tempo?
Já não se escoa na ampulheta definitiva
O incrível momento de um encontro?
Encontro de pegadas
Ou o encontro com quem não as tem? Não sei.
Continuo a deixar pegadas na areia
Em forma de versos sem fim que, talvez,
Não venham a fazer parte da memória.
As ondas do esquecimento
Apagarão os resquícios da minha vida,
Como apagaram minhas pegadas na areia.
Somente se eu os gravar em pedra
Como ostras pregadas no rochedo
Alguém se lembrará de mim.
21/06/03-Em Paraty
Rachel dos Santos Dias