Pequena pausa
Já faz três semanas que eu plantei a dor na minha epiderme. Foi numa tarde de domingo, o sol já não estava mais ao alcance da vista e minha alma e estava ainda mais cansada e melancólica. Eu não sei ao certo a ordem dos acontecimentos, tenho lapso de memória ou simplesmente evito lembrar exatamente como as coisas acontecem. Eu estou adiando a minha história, porque escrever lapida a alma e meu coração sangra com cada vírgula grafada. Quando escrevo, sinto que uma parte de mim se solidifica em outrem, é como se eu emprestasse um pouco do que sou, e isso vai morrendo dentro de mim. Ou seria fenecer, para enfim algo novo brotar? Eu não sei ao certo, todavia: escrevo - e tu decides se irá ou não me ler. Acontece que antes da dor, eu era viva, eu sentia tudo e me doava ao máximo, para enfim saber que existia. Sim, eu precisava fincar atos nos fatos, porém naquele domingo, eu era apenas um corpo que existia no mundo, e que aos poucos envelhecia para virar cinzas em esquecimento. Agora tu sabes da minha dor. preciso sair um pouco, mas já nem vejo cores na cidade, de repente tudo ficou cinza. Sou um corpo vazio que ainda se movimenta. Um coração que pulsa só por estar vivo por meio das palavras. Eu apenas existo. Agora mais uma dose de vinho. Depois eu continuo...