Abandono-me nas palavras
A escrita é a minha última fuga de silêncio
Já não tenho as horas a roer-me a solidão
Nem o tempo a velar por mim
A mesa está posta e tu não vieste
Ninguém apareceu nem os pássaros mortos
Que habitam dentro de mim
As flores continuam alegres, algumas rasgaram-se,
Permanecem quietas junto dos remendos
Onde colo a minha sombra
Abandono-me nas palavras
E cravo nas veias a juventude dos livros
A passearem-se diante da cegueira
Diurna dos meus olhos