Doce Álcool

Caído no chão do quarto, mal posso respirar

Duro e frio contra as minhas costas.

Sinto aos poucos meu período de consciência se expirar.

Há batidas de um relogio distante

O papel que seguro se desfaz em vinho e sangue.

O cúmulo da decadência, alguns diriam

O reflexo de uma natureza doente, eu poderia apontar.

Sem segredos e sem mentiras

Esperando a vida passar

Eu perdi a luz que me guiava através dos dias

E assim deixei o demônio entrar.

Ninguém se importa

Eu não me importo

Apenas o assisto me assassinar.

Horas se passam no escuro.

Não existe música nas minhas linhas

Os sons mortos de lamento fingido a muito se foram

Só escuto um leve farfalhar.

Vindo das sombras onde deveria haver um futuro

Ou dos fantasmas dos gritos que me assombram quando durmo

Frequentes em momentos em que da realidade me forço a escapar.

Não sei o caminho

não tem como voltar

Sinto um buraco na minha alma

Consumindo tudo o que eu costumava gostar

E mesmo pagando o alto preço do vício

Me afogando em gotas de um amargo líquido

Nada parece capaz de me consertar.

Pouco a pouco

Me afasto de tudo, de um todo

Pouco a pouco

Me entrego mais ao meu próprio demônio

E apesar do medo

Da dor que me domina por inteiro

Não tenho certeza se o quero evitar

Ele é tudo o que sobra

Está longe de uma promessa de vitória

Mas tem o poder de fazer tudo parar.