Passeio de Carro

Quinta-feira, cinco da tarde

A chuva forte deixara muitas goteiras

O cheiro de terra molhada se espalhou pela cidade

E o sono invadiu as casas inteiras

As nuvens estavam escuras, não havia luminosidade

O sol aparecia pela metade.

Com as chaves de casa e do carro na mão,

Ao abrir a porta, escutei o rugido do trovão

Me assustei deveras, mas segui firme a direção

Estava indo de encontro com um certo alguém

Mas a chuva não havia lhe feito bem.

Ao chegar no meio-fio da casa velha,

Após a baliza, toquei a campainha

Depois de alguns minutos escutei o caminhar dela

Minha querida amiga, a alegria, surgiu para a sua vinda

E ela já estava à minha espera

Dias anteriores nós havíamos combinado uma saída

Cheguei na hora certa, então partimos para a festa.

De uma estação de rádio para outro, conversamos

Com as mãos no volante eu compartilhei meu sonho

Desenhei com palavras a imagem de um lindo campo,

Com o céu embelezado pelos fogos de fim de ano,

E a luz da Lua, que reflete o azul do oceano

Da harmonia frenética dos quatro cantos.

Quase não escutei a sua voz

Ela estava muito triste

Não escondi o quanto eu estava com dó

Insisti para que se comunicasse,

Pois estávamos a sós.

Depois de tanto me evitar, ela resolveu desabafar

Em sua casa ela já não mais queria ficar

Disse para mim que já estava difícil de respirar

Não estava mais aguentando

E de lágrimas invisíveis ela estava soluçando

Com uma expressão deprimida acabei me deparando

Uma festa não seria de grande ajudar,

Por conta disso, perguntei se podíamos ir caminhar na chuva

Não sei por que disse, já que ela estava muito triste

Não iria de forma algum sair do carro

Eu confesso que me arrependi por ter perguntado,

Mas a resposta foi humilde, como um simples vaso de barro.

Foi sobre as lágrimas vindas do céu que a entendi

Iluminados pela cidade, eu a vi, sorri

Aquele rostinho tristonho se transformou em um sonho

Abracei dizendo que ficaria tudo bem

Disse ao seu ouvido que ela não ficaria sem ninguém,

Que eu sempre estaria com ela,

Que não deveria continuar cega.

Ao voltarmos para a rua da velha casa discreta,

Me foi requisitado uma promessa,

Jamais me esquecerei dela

Permanecerá até o fim a conversa que tive com ela

De um irmão para uma irmã

Eis que em meu peito rezo que ela viva bem o amanhã

Ao girar a chave, e desligar o motor,

Eis que termina um dia de dor

Que se dê início a um dia de amor.