Postura
POSTURA
Há um peso imundo nas minhas costas;
Não há insetos no estômago;
Maria das Dores hoje mora em meu coração.
Ela conta os dias para que aquilo que é mais belo
Vá embora e não volte nunca mais,
Que bata a porta em minha cara
E infeccione todas as vias aéreas
Fazendo com que todos os gritos inflamados de amor
Hoje tornem-se placas de pus nas amígdalas,
Tremedeiras noturnas.
Maldito seja o mês amarelo
E todos os outros dias em que sou cinza.
Empatia seletiva
Hipocrisia que queima e mais faz doer
Do que os recibos do aluguel de Maria.
Se soubessem que os empáticos doem mais que o pus,
Não haveria tantos delegados.
Maria das Dores me desenvolve na linha férrea Sorocabana-Santos,
Onde as baldeações matam suas flores,
Matam-me às raízes
E me tornam cada vez mais cinza
No seu vai e vem mecanizado,
Existem dias em que os alicerces quebrados
Intrinsecamente constroem minha corcunda.