Postura

POSTURA

Há um peso imundo nas minhas costas;

Não há insetos no estômago;

Maria das Dores hoje mora em meu coração.

Ela conta os dias para que aquilo que é mais belo

Vá embora e não volte nunca mais,

Que bata a porta em minha cara

E infeccione todas as vias aéreas

Fazendo com que todos os gritos inflamados de amor

Hoje tornem-se placas de pus nas amígdalas,

Tremedeiras noturnas.

Maldito seja o mês amarelo

E todos os outros dias em que sou cinza.

Empatia seletiva

Hipocrisia que queima e mais faz doer

Do que os recibos do aluguel de Maria.

Se soubessem que os empáticos doem mais que o pus,

Não haveria tantos delegados.

Maria das Dores me desenvolve na linha férrea Sorocabana-Santos,

Onde as baldeações matam suas flores,

Matam-me às raízes

E me tornam cada vez mais cinza

No seu vai e vem mecanizado,

Existem dias em que os alicerces quebrados

Intrinsecamente constroem minha corcunda.

Lucas André Almendra
Enviado por Lucas André Almendra em 25/10/2017
Reeditado em 25/10/2017
Código do texto: T6153207
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