Ei, estranho
Só queria me dissestes algum dia:
"Ei estranho, não apagues a luz,
não feche a porta, dê meia volta e fique,
sussurre palavras de acalento em meus ouvidos,
venhas de onde vier, não te vás agora,
apenas permaneça e segure minha mão,
fale-me sobre as estrelas do céu,
diga-me sobre como tudo ficará bem,
me dê um beijo de boa noite,
não estou olhando suas cicatrizes,
não estou clamando por juras eternas,
não estou julgando seu comportamento,
sei de seus passos em falso,
sei de suas muitas lágrimas,
sei de suas mentiras,
sei de suas verdades,
nada que me impeça de ama-lo à cada dia,
não somos mais do que poeira cósmica,
corpos ilusórios na palheta do destino,
vidas que se iniciam e findam num sopro,
por isso, esqueças as aparências,
esqueças os pecados e as ausências,
esqueças as metamorfoses do tempo,
só temos o acorde de agora,
essa nota não infinita que corre pelo violino,
esse choro noturno de um corvo triste,
nessa escuridão que iluminamos com sentimentos...
Ei estranho, não fujas de mim,
não escondas teus olhos da lua,
conte-me aquelas lendas das terras do Norte,
seja qual for o seu nome, seja qual for a sua história,
apenas sente-se comigo ao redor dessa fogueira,
aqueças minhas solidão com sua presença,
divagues sobre poesias imemoriais,
me dê razões para acreditar em divindades,
reze uma prece comigo,
não estou negando tua existência,
não estou pedindo-te impossibilidades,
não estou condenando suas ações,
sei de seu passado distante,
sei de seu presente constante,
sei de suas milhares de angústias,
nada que me impeça de amá-lo sem reservas,
não somos nada além de grãos de areia na imensa praia,
gotas de um oceano que explode suas ondas em nossas sombras,
cores de uma aquarela de milhões de tons distintos,
só temos o que somos um com o outro,
o resto se perde na brisa de cada manhã,
então não deixemos que essa essência se dissipe,
se temos o mais importante para continuar: nós, juntos..."