O Afogado (fragmento)
Toco a decepção como pássaro matutino,
constantemente, de passo em passo venho
despertando distante.
Sozinho, não tenho meios notáveis
de praia ou bosque, não estou presente,
vivo ausente.
De noite sou, o dia passou, foi cheio
como foi cheio minha boca.
E o céu noturno como eu mostra
o que carece-me.
O que tenho o silêncio diz...
Vivi e muitas vezes continuei.
Estou vencendo, diz o prazo de validade.
Para que não me procureis em busca de uma
solução insondável.
Não busque saber quem sou nem me chameis:
não tenho tempo o suficiente. Nem pergunteis
meu nome grego, nem meu estado independente do teu.
Só quero ficar mergulhado no meu satélite natural,
no meu espaço ferido em que tudo é muito relativo.
- Fragmento de O Afogado.