Confissão

Eu menti quando disse que não sabia contar mentiras

Eu conto mentiras pra mim o tempo todo

Minto que não dói

Na espera de não doer

Minto que não vejo

Quando as previsões enxergam o óbvio

Menti sorrisos que dei

Quando quis chorar

Menti quando disse que não ia estar, mas sempre estive

Menti ser forte e paciente

E minto uma positividade bruta que me forço a acreditar para conseguir seguir adiante

Menti que preciso de ar

Eu sou a face das milhões de mentiras que conto a mim

Dos segredos não revelados

Das partes de mim que doei

Mas hoje só dói

Das frases que não falei

Dos amores que não declarei

Dos dias que não dormi

Sou a negação das verdades que me conto todos os dias

Me escondo nas horas frias

De madrugadas infinitas

Onde a vida é previsível e unica

E o silêncio me abraça

Moro em mim, em paredes frágeis e desgastadas

E conto mentiras sentada no telhado das minhas frustrações

No circo abstrato da vida

Eu sou o palhaço das emoções

O hiato se faz necessário

Fecho a porta

Tranco as janelas

Rasgo as páginas da lembrança e do diário.

Charlene Angelim
Enviado por Charlene Angelim em 29/09/2017
Código do texto: T6128137
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