O Poço Das Trevas
Bem aqui no fundo deste poço gelado e escuro em que me encontro
O lodo me alcança as canelas e meu grito de socorro rebate nas paredes e me sangra os ouvidos
Clamo por Deus com o fervor dos devotos
E Ele me responde com meu timbre de voz no eco torturante do meu coração vazio
Invoco outras entidades em desespero, mas não há uma só mão capaz de me arrepelar deste poço
Ouço as gargalhadas dos espíritos do mal que eu mesmo criei na minha mente lúdica e não consigo me libertar
(Que me joguem uma corda para eu fazer de gravata ou uma pistola para eu me fazer de alvo)
Como não alcanço a saída pela luz, cavo com minhas mãos o fundo deste poço na tentativa vergonhosa de libertação deste lugar que fui lançado sem aviso
Vez ou outra, um ser – que não identifico por ser sombra na luz – senta-se na boca do poço e defeca em minha cabeça
Maldito seja este ser que não reconheço
E que em mim amontoa dejetos fecais
Enquanto anseio como a sede no deserto por veneno
Quem me guardou neste relicário?
Foi obra de Deus ou armação do diabo?