SEM MOLDURAS

Hoje é tão simples vê-la naquela foto.

O sorriso abre-se,

o “flash” da câmera reflete o joelho

que se congela,

flor óssea,

eternamente luminosa e sem pétalas.

Vejo também o músculo,

da tua coxa esquerda.

Guardei a perna intacta,

em um pacote de cartas,

(contas de luz estão no mesmo embrulho)

mas os braços,

soltos no instantâneo,

emperram as gavetas.

Naquela outra pose,

o teu olhar perdido,

lembra o término

- desconjuntado como o sofá da foto -

do nosso voo de amor.

Albatrozes

Voamos no raso. Não está no retrato.

Aqui não vejo os lábios.

Percebo a péssima qualidade da estampa

e daquele tempo

embora os olhos, as mãos,

o sorriso

estejam agora no espaço útil

deste criado-mudo.

DO LIVRO: "BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 12/09/2017
Reeditado em 17/10/2017
Código do texto: T6112455
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